O matrimônio havia sido aprovado no dia 3 de agosto, mas foi
suspenso.
Casal de Colatina diz que fingiu briga para superar crise
familiar e ser feliz
O primeiro casamento civil do Espírito Santo foi autorizado
pelo Tribunal de Justiça do estado nesta quinta-feira (20). As capixabas Ediana
Calixto, de 23 anos, e Kamila Roccon, de 20 anos, que moram em Colatina, na
região Centro-Oeste, já podem marcar a data do casamento. O matrimônio havia
sido aprovado no dia 3 de agosto, mas foi suspenso por que o Ministério Público
do Espírito Santo (MP-ES) recorreu da decisão ao entender que o registro da
união não competia a Vara da Fazenda Pública, mas, sim, a Vara da Família.
Ediana informou , em entrevista por telefone, que ainda
não tem data definida para o casamento, mas quer se casar com Kamila ainda em
2012. “Estamos muito felizes com a decisão. Enfim, vamos ficar mais juntas do
que nunca. A primeira coisa que fiz, ao saber, foi ligar para minha avó, que
comemorou muito pela minha felicidade”, disse aos risos.
Por não ser uma união entre um homem e uma mulher, a jovem
disse que ela e a companheira enfrentam muitos preconceitos, principalmente da
própria família. Durante o tempo em que o casamento ficou suspenso pela
Justiça, as namoradas fingiram estar separadas. “Era muita cobrança,
principalmente para Kamila. Os pais dela não querem que fiquemos juntas. Quando
o casamento foi barrado pela Justiça, eles disseram para ela esquecer a
história, esquecer da gente. Durante umas três semanas, fingimos que estávamos
brigadas, que tínhamos terminado tudo. Certa vez, a gente estava no quarto e a
tia dela chegou do nada, eu precisei pular a janela e me esconder”, contou
Ediana.
Kamila Roccon trabalha em um frigorífico em Colatina, já
Ediana está desempregada. Anteriormente, o casamento estava marcado para o dia
16 de agosto e as duas já haviam feito o 'chá de panela', ganhado roupas e dia
de salão, mas tudo foi cancelado às vésperas da data marcada. “Mesmo sem
condições, vamos realizar nossa união sim. Precisamos pensar com calma como
será, já que estou desempregada. O mais importante é que a Justiça nos
liberou”, disse Ediana.
Decisão
O juiz Salomão Akhnaton Zoroastro Spencer Elesbon, da 1ª
Vara da Família de Colatina, foi quem autorizou o casamento entre as jovens. A
celebração da cerimônia civil e expedição da certidão de casamento homoafetivo
serão feitas pelo Cartório de Registro Civil de Colatina, ainda sem data definida.
“Os enlaces familiares de qualquer espécie, desde que pautados na afetividade,
estabilidade e ostensividade, estão sob as regras do Direito de Família. Sendo
assim, onde houver afeto entre duas pessoas, respeito, solidariedade, comunhão
de vida, ética familiar, ostensividade e intenção de constituir família, haverá
uma união familiar tutelada pelo direito”, defendeu Salomão Akhnaton.
Diferença entre união estável e casamento civil
Há pouco mais de um ano, no dia 10 de setembro de 2011,
aconteceu a primeira união homoafetiva no Espírito Santo e envolveu um policial
militar. De acordo com o TJ-ES, no caso das meninas, se trata de um casamento
civil diferente da união estável.
De acordo com a juíza Janete Pantaleão, a união estável
acontece independente dos sexos, mas para garantir benefícios como plano de
saúde e registro de filhos é necessário recorrer à Justiça. “Já o casamento
civil é um documento oficial que garante todos os direitos perante a
sociedade”, explicou Pantaleão.
Chá de panela de Ediana e Kamila aconteceu em agosto, no
Espírito Santo
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