sábado, 26 de janeiro de 2013

Com poesia, fonoaudióloga ensina travestis e transexuais a modular voz



Mudar esteticamente é fácil. E a voz? É ela que denuncia"Denise Mallet, 61 anos, que ajuda grupo alterar a fala sem comprometer as cordas vocais.
Perfil de Denise Mallet é parte da história da cidade que faz 459 anos.

Há três anos, Denise Mallet, 61 anos, ensina os travestis e transexuais de São Paulo a modular a voz. Para que as cordas vocais desse público não sejam prejudicadas, a especialista oferece uma técnica singela e, segundo ela, bastante eficaz. Com poesia, a especialista mostra que é possível assumir uma maneira masculina ou feminina de falar, sem precisar afinar ou engrossar a voz.


O tratamento, pioneiro e ainda único no Brasil, é oferecido gratuitamente no Ambulatório para Saúde Integral de Travestis e Transexuais de São Paulo, projeto realizado no Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, onde Denise atua desde 2001. De junho de 2009 a janeiro de 2013, o ambulatório registrou 1.322 pacientes agendados.

Declamando versos, ela ajuda esse grupo especifico a deixar a voz saudável e compatível com o visual já modificado. “Esteticamente é fácil, mas e a voz? É o que denuncia. No caso das travestis, elas usam falsetes, tem uma forma de produzir um som nasal para minimizar o tom grave da voz masculina", explica.

Com voz suave, ela apresenta obras da literatura brasileira em diferentes interpretações. “São pessoas muito nervosas, tensas, machucadas. E a poesia é muito leve. Então, é um momento de paz, serenidade, recebido com prazer. Com a ‘A Rua das rimas’ (poema de Guilherme de Almeida), muitas choram.

O trabalho demanda tempo, e disponibilidade de ambas as partes. Denise revela que é preciso, em média, 40 a 50 dias para que os pacientes fiquem à vontade. “Tenho que resgatar a voz natural. E isso é muito difícil para esse público. Até mesmo dentro do consultório.”

Para ter êxito com uma população tão carente e fragilizada, Denise desenvolve a técnica de modulação da palavra. O que ela oferece é uma espécie de maquiagem na fala.  “Começo a mostrar para o paciente que posso emitir a poesia de várias formas. A voz continua a mesma, mas auditivamente parece outra. O importante não é falar fino ou grosso, é ter um jeito feminino ou masculino de falar.

A poesia abre terreno para introduzir a prosa. A eficácia, em alguns casos, vai além da técnica. Com a ajuda de Manuel Bandeira - o queridinho da médica - e Cecília Meireles, ela também desperta nos pacientes o prazer pela leitura. “Fiquei muito contente que muitas foram às livrarias atrás dos autores que uso em consultório e descobriram inúmeros outros. Abre caminho para o conhecimento e coisas boas.”
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1 comentários:

  1. Olá... muito interesse o trabalho da fonoaudióloga Denise, também sou fono e gostaria se possível do contato para troca de informações..

    Obrigada!

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